seg, 12/08/2013 - 12:54
Marianne Falck Hans Leyendecker e Silvia Liebrich
O
grupo americano Monsanto[1] é um gigante no agronegócio – e é o número
um na área da controvertida tecnologia genética “verde”. Para seus
opositores, a Monsanto é um inimigo assustador. E continuam acontecendo
coisas intrigantes que fazem o inimigo parecer ainda mais aterrorizante.
No mês passado, a organização europeia protetora do meio ambiente
“Amigos da Terra” e a Federação para meio Ambiente e Proteção à Natureza
Deutschland (BUND) quiseram apresentar um estudo sobre os efeitos do
herbicida glifosato no corpo humano. Os herbicidas que contêm glifosato
são carros-chefes da Monsanto. A empresa fatura mais de dois bilhões de
dólares somente com o agente Roundup. Os “herbicidas Roundup”, assim
sustenta a Monsanto, “têm uma longa história de uso seguro em mais de
100 países”.
Quando os vírus atacaram seus computadores, os ativistas se indagaram: será que estamos vendo fantasmas?
Entretanto existem também pesquisas alegando que o agente
possivelmente cause prejuízos a plantas e animais; e o estudo mais
recente demonstra que muitos moradores de grandes cidades vivem com o
veneno no próprio corpo, sem terem conhecimento disso. Como tantas outra
coisas relacionadas a esse assunto, é discutível o que exatamente o
pesticida é capaz de provocar no organismo humano.
Dois dias antes da publicação do estudo em dezoito países, um vírus
paralisou o computador do principal organizador, Adrian Bepp. Houve
ameaça de cancelamento das entrevistas coletivas em Viena, Bruxelas e
Berlin. “Surgiu pânico”, lembra Heike Moldenhauer da BUND. Os ativistas
do meio ambiente viram-se correndo contra o tempo.
Moldenhauer e seus colegas tinham feito diversas especulações sobre
os motivos e a identidade do misterioso agressor. A especialista em
tecnologia genética do BUND acredita que o principal objetivo do
desconhecido fornecedor do vírus tenha sido “gerar confusão”. Não há
nada pior para uma pesquisa do que cancelar uma coletiva da imprensa. “E
nós ficamos nos perguntando se estávamos vendo fantasmas”, diz
Moldenhauer.
Não há nenhum indício de que Monsanto tenha sido o fantasma, ou que
tenha algo a ver com o vírus. O grupo sustenta que não faria algo
assim. Preza “agir com responsabilidade”: “hoje em dia é muito fácil
fazer uma afirmação e de difundi-la”, diz a Monsanto. Dessa forma,
prossegue “periodicamente são feitas afirmações duvidosas e populistas
que denigrem nosso trabalho e nossos produtos, carecendo de qualquer
abordagem científica.”
Os críticos do grupo têm outra visão. Ela tem a ver com a espessa
trama tecida ao redor do mundo pela Monsanto, cujos entroncamentos estão
localizados nos serviços secretos norte-americanos, nas suas forças
armadas, em empresas de segurança privadas e, é claro, também junto ao
governo dos EUA.
Um número expressivo de críticos da Monsanto relata ataques
cibernéticos regulares, praticados com gabarito profissional. Também os
serviços secretos e o serviço militar gostam de contratar hackers e
programadores. Estes são especialistas em desenvolver cavalos de troia e
vírus para penetrar em redes de computadores alheios. O ex-agente da
CIA Edward Snowden chamou atenção ao nexo entre as ações dos serviços de
notícias e as movimentações da economia. No entanto, esta ligação
perdeu força diante das demais denúncias.
Alguns dos poderosos defensores da Monsanto entendem bastante do
assunto da guerra cibernética. “Imagine a internet como uma arma que
está sobre a mesa. Ou você a pega, ou seu concorrente irá fazê-lo, mas
alguém será morto”, foi o que disse Jay Byrne em 2001, quando era chefe
de relações públicas na Monsanto.
É comum empresas lutarem com métodos escusos em função daquilo que
consideram como seu direito, como sendo o certo. Porém, os termos “amigo
ou inimigo”, “ele ou eu” já denotam linguagem de guerra. E numa guerra é
preciso ter aliados – por exemplo, aqueles instalados no serviço
secreto.
São conhecidos os contatos da Monsanto com o notório ex-agente secreto
Joseph Cofer Black,
que colaborou na formulação da “lei da selva”, na “campanha
anti-terror” de George W. Bush. Ele é especialista para trabalho sujo,
da linha dura. Trabalhou para a CIA durante quase trinta anos, sendo
inclusive o chefe “antiterrorista”. Mais tarde seria o vice-presidente
da empresa de segurança particular Blackwater, que mandou milhares de
mercenários para o Iraque e o Afeganistão.
Pesquisas mostram como são estreitos os laços da direção da empresa
com o governo central em Washington e com representações diplomáticas
dos EUA no mundo inteiro. A Monsanto tem auxiliares eficazes em diversos
lugares. Antigos colabores da corporação ocupam altos postos nos EUA,
em departamentos governamentais e ministérios, em federações da
indústria e universidades. Por vezes, são relações quase simbióticas. De
acordo com informações da organização anti-lobby
Open Secrets, no ano passado 16 lobistas da Monsanto ocuparam cargos de alto nível no governo norte-americano e em agências reguladoras.
Para a empresa, trata-se de ocupar novos mercados e em vender
alimentos a uma população mundial que cresce em ritmo alucinante. A
engenharia genética e as patentes relacionadas com plantas desempenham
um papel importante nesse contexto. Nos Estados Unidos, o milho e soja
geneticamente modificados representam 90% dos cultivos — e este
percentual cresce de modo constante também no resto do mundo.
Apenas no mercado europeu, nada acontece. Diversos países da União
Europeia (UE) têm muitas restrições com relação ao futuro da Monsanto, o
que visivelmente desagrada ao governo dos EUA. No ano de 2009, Ilse
Aigner, Ministra da Alimentação, Agricultura e Proteção ao Consumidor da
Alemanha, filiada ao Partido da União Social-Cristã, havia banido o
tipo de milho MON810 também dos campos alemães.
Ao viajar logo depois para os Estados Unidos, foi interpelada pelo
colega americano Tom Vilsack, com respeito à Monsanto. O político, do
Partido Democrata, havia sido governador no estado federal Iowa, de
característica rural, e logo tornou-se adepto dos transgênicos. Em 2001,
foi eleito pela bioindústria como “governador do ano”.
Infelizmente, não há registro da conversa entre Vilsack e Aigner.
Dizem que foi controvertida. Um representante do governo federal alemão
descreve o tom do diálogo da seguinte forma: houve “esforços maciços de
forçar uma mudança de rumo dos alemães com respeito à política
genética”. A fonte da informação não quis se pronunciar sobre o tipo dos
“esforços maciços”, nem sobre a tentativa de “forçar” alguma coisa.
Isto não se faz entre amigos ou parceiros.
Graças a Snowden e ao Wikileaks, o mundo pode imaginar o que
acontece entre amigos e parceiros, quando o poder e o dinheiro estão em
jogo. Dois anos atrás, o Wikileaks publicou despachos diplomáticos, que
incluíam detalhes sobre a Monsanto e a engenharia genética.
Em 2007, por exemplo, o então embaixador norte-americano em Paris,
Craig Stapleton, sugeriu ao governo dos EUA que elaborasse uma lista
suja dos países da União Europeia que estivessem dispostos a proibir o
plantio de sementes geneticamente modificadas por empresas
norte-americanas. O teor da mensagem secreta: “A equipe parisiense
sugere propor uma lista de medidas de retaliação que irá causar dores à
Europa”. “Dores”, “retaliação” – a rigor, essa não é exatamente a
linguagem da diplomacia.
A luta pela autorização do famoso milho geneticamente manipulado
MON810 na Europa foi conduzida pela Monsanto com muito trabalho de lobby
– e ao final, a empresa perdeu por completo. O produto foi banido
inclusive dos mercados prestigiados da França e da Alemanha. Uma aliança
entre políticos, agricultores e pessoas relacionadas às igrejas recusou
a engenharia genética nas plantações, e os consumidores não a querem em
seus pratos.
No entanto, a batalha ainda não terminou. Nas negociações iniciadas
nos mês passado entre os EUA e a UE, sobre um tratado de “livre”
comércio, os Estados Unidos esperam, entre outras coisas, uma abertura
dos mercados para a tecnologia genética.
Com o Tratado de Livre Comércio, EUA querem abrir o mercado de transgênicos na Europa
Fazer lobby por uma empresa nacional no exterior é algo visto como
dever cívico, nos EUA. Há muito, as mais significativas entre os
dezesseis agências de inteligência norte-americanas entendem seu
trabalho como apoio aos interesses econômicos norte-americanos no
cenário mundial. Alegando combater o terrorismo, não somente espionam
governos, órgãos públicos e cidadãos, mas também empenham-se — do seu
modo muito peculiar — a favor de interesses econômicos do país.
Alguns exemplos:
Várias décadas atrás, quando o Japão ainda não era uma potência
econômica, surgiu nos Estados Unidos a pesquisa “Japão 2000”, elaborada
por um colaborador do Rochester Institute of Technology (RIT). Através
de uma “política comercial temerária”, assim dizia o estudo, o Japão
estaria planejando uma espécie de conquista do mundo, e os perdedores
seriam os EUA. A segurança nacional dos Estados Unidos estaria ameaçada e
a CIA deu o grito de guerra.
Na competição global, a economia norte-americana tinha que ser
protegida dos “dirty tricks”, os truques sujos dos europeus, declarou o
ex diretor da CIA James Woolsey. Por esta razão, os “amigos do
continente europeu” estariam sendo espionados: os Estados Unidos são
limpos…
Edward Snowden esteve certa vez pela CIA na Suíça, e há dias
relatou a maneira como a empresa teria tentado envolver um banqueiro
suíço na espionagem de dados bancários. A União Europeia permitiu aos
serviços norte-americanos examinar em profundidade os negócios
financeiros de seus cidadãos. Segundo dizem, o objetivo é secar as
fontes financeiras do terror. Os meios e os fins, entretanto, são
altamente discutíveis.
Na Suíça, que anteriormente foi palco de muitas histórias de
agentes, desenrolou-se um dos episódios que tornaram a Monsanto
particularmente misteriosa: em janeiro de 2008, o ex agente da CIA Cofer
Black viajou para Zurique para encontrar-se com Kevin Wilson, na época,
o responsável pela segurança para questões globais. A pergunta, a
respeito do que os dois homens estariam falando, ficou no ar. Certamente
os assuntos eram os de sempre: opositores, negócios, inimigos mortais…
O jornalista investigativo Jeremy Scahill, autor da obra sobre a
empresa de mercenários Blackwater, escreveu em 2010, no jornal semanal
americano The Nation, sobre esse estranho encontro em Zurique. Tinha
recebido documentos vazados, a respeito do assunto. Deixavam claro que a
Monsanto estava querendo se defender contra ativistas que queriam
destruir suas plantações experimentais; contra críticos que se
posicionavam contra a empresa de modificação genética.
Cofer Black era, para todos os efeitos, a pessoa certa: “Vamos
tirar as luvas de pelica”, havia declarado após os ataques de 11 de
setembro, conclamando seus agentes da CIA a livrar-se de Osama bin Laden
no Afeganistão: “Apanhem-no: quero a cabeça dele dentro de uma caixa”.
Mas ele também entende muito do outro negócio do serviço secreto; aquele
que opera com fontes de acesso público.
Ao encontrar-se com Wilson, dirigente de segurança na Monsanto,
Cofer Black ainda era vice na Blackwater, cujos clientes eram, entre
outros, o Pentágono, o Departamento de Estado, a CIA, e logicamente,
empresas particulares. Mas em janeiro de 2008 houve muitos tumultos,
pois 17 civis foram assassinados no Iraque por mercenários da empresa de
segurança, e alguns homens da Blackwater chamaram atenção de
funcionários do governo iraquiano devido a atos de suborno.
Acontece que Cofer Black, na época, era também o chefe da empresa
de segurança Total Intelligence Solutions (TIS), uma subsidiára da
Blackwater, e que, apesar de sua reputação menos devastadora, contava
também com “experts” excelentes e versáteis…
De acordo com as próprias informações, a Monsanto fez negócio, na
época, com a TIS e não com a Blackwater. Era inquestionável que a
Monsanto fora abastecida pela TIS, com relatórios sobre as atividades
dos críticos – as quais poderiam representar um risco para a empresa,
seus colaboradores ou seus negócios operacionais. Fazia parte tanto
coletar informações sobre ataques terroristas na Ásia quanto escanear
páginas da internet e blogs. A Monsanto frisava que a TIS, obviamente,
só tinha usado material de acesso público…
Isso corresponderia aos métodos de Cofer Black. Então – nada de ações escusas.
Costumava haver boatos frequentes de que a Monsanto quisera assumir
o controle da TIS, objetivando a sua segurança geral. E hoje surgem
novos rumores, segundo os quais o grupo estaria avaliando a
possibilidade de assumir a empresa Academi, que formou-se após
reorganizações da antiga Blackwater.
Será que os rumores procedem? “Em geral, não discutimos os detalhes
do nosso relacionamento com os prestadores de serviço – a não ser que
essas informações já estejam disponíveis ao público”, foi a única
resposta da Monsanto.
Toda empresa possui a sua própria história, e da história da
Monsanto faz parte um assunto que queimou sua imagem não apenas junto
aos hippies: no passado, a Monsanto esteve na linha de frente dos
produtores do pesticida “Agente Laranja”, utilizado até janeiro de 1971
na guerra do Vietnã pelos militares norte-americanos.
Os constantes bombardeios químicos desfolhavam as florestas para
tornar o inimigo visível. Os campos eram envenenados para que o vietcong
não tivesse mais nada para comer. Nas áreas pulverizadas multiplicou-se
por dez o número de nascimentos de crianças com anomalias; nasciam sem
nariz, sem olhos, com hidrocefalia ou fendas no rosto – e as forças
armadas dos EUA asseguravam que o produto da Monsanto seria tão
inofensivo quanto a Aspirina.
Será que na guerra, tudo é permitido? Principalmente na moderna guerra cibernética?
Chama atenção o fato de que alguém esteja dificultando, hoje, a
vida dos críticos da Monsanto, ou que alguma mão invisível esteja
interrompendo carreiras. Mas, quem é esse alguém? São alvos de ataque
cientistas como a australiana
Judy Carman,
que, entre outros, tornou-se conhecida com pesquisas de produtos
transgênicos. Suas publicações são questionadas por professores, os
mesmos que tentam minimizar a importância dos estudos de outros críticos
da Monsanto.
Mas o assunto não se resume a escaramuças nos círculos científicos.
Pois diversas páginas da internet onde Carman publica suas pesquisas,
tornam-se alvo de ataques cibernéticos e, segundo impressão de
pesquisadora, são sistematicamente observadas. Exames do IP de seu site
demonstram que não apenas a Monsanto acessa regularmente essas páginas,
mas também diversos órgãos do governo norte-americano ligados às forças
armadas.
Entre outros, o Navy Network Information Center, a Federal Aviation
Administration e o United States Army Intelligence Center, um órgão do
exército para o treinamento de soldados em tarefas de espionagem. O
interesse da Monsanto nessas pesquisas pode ser observado, também no
caso de Carman. “Mas não entendo, por que o governo americano e o
exército mandam me observar“, diz ela.
Coisas estranhas aconteceram também com a GM Watch, uma organização
crítica da engenharia genética. A colaboradora Claire Robinson fala de
ataques cibernéticos constantes à página desde 2007. “Toda vez em que
aumentamos a segurança do site, nossos oponentes tornam-se mais tenazes e
seguem novos ataques, ainda piores”, explica. Também neste caso não se
acredita em coincidência.
Em 2012, quando o cientista francês Eric Séralini publicou uma
pesquisa bombástica sobre os riscos à saúde representados pelo milho
transgênico e o glifosato, o site da GM Watch foi atacado e bloqueado.
Isso se repetiu quando foi publicado o posicionamento do órgão europeu
de inspeção alimentar, a EFSA. Em ambos os casos, o momento foi
habilmente escolhido: no exato instante em que os editores tentavam
publicar os textos. Não foi possível determinar quem estava por trás dos
ataques.
A própria Monsanto, como já foi dito, faz questão de frisar que opera “com responsabilidade“.
No entanto, é fato que a empresa tem muitos interesses em jogo.
Trata-se de projetos legislativos, e em especial, das negociações em
curso, relacionadas ao Tratado de “livre” comércio entre EUA e UE. Os
capítulos sobre Agricultura e Indústria Alimentícia são particularmente
delicados. Os norte-americanos têm como meta a abertura dos mercados
europeus para os produtos até então proibidos. Ao lado das plantas
transgênicas, estão incluídos aditivos controversos e a carne bovina
tratada com hormônios. As negociações certamente ainda vão se arrastar
por alguns anos.
O assunto é polêmico e as negociações serão duras. Por isso, o
presidente Barack Obama apontou Islam Siddiqui como chefe das
negociações agrícolas. Como especialista, trabalhou durante muitos anos
para o ministério de Agricultura americano.
Mas, o que poucos sabem na Europa: de 2001 a 2008 ele representou,
como lobista registrado, a CropLife America, uma associação industrial
que representa os interesses de produtores de pesticidas e produtos
transgênicos. Entre eles, é claro, a Monsanto. “A rigor, a UE não
poderia aceitar tal interlocutor, devido a seus interesses, opina
Manfred Häusling que representa o Partido Verde no parlamento europeu.
Englentich, a rigor. No médio-alto alemão, esta palavra
(eigentlich) sinificava “servil”, o que não seria uma má descrição do
cenário atual — onde os políticos europeus, e em especial os alemães,
revelam uma atitude de surpreendente aceitação, diante do fato de serem
espionados com regularidade por órgãos norte-americanos.
Nota
[1] A Monsanto é o a maior empresa agrária do mundo, e também a que
lidera a engenharia genética. Em 2012, o grupo ampliou seu faturamento
em 14%, em comparação ao ano anterior, chegando a 13,5 bilhões de
dólares. O lucro subiu 25%, atingindo dois bilhões de dólares. No mundo
todo, a empresa emprega 21.500 trabalhadores e tem filiais em mais de 50
países.
Sua fundação data de 1901, pelo norte-americano John Queeny em St.
Louis, no estado de Missouri. O nome foi uma homenagem à família de sua
esposa. Primeiro, Queeny produziu o adoçante sacarina. Em pouco tempo, o
fabricante de bebidas Coca-Cola passa a fazer parte de seus clientes.
Logo depois da I Guerra Mundial, a Monsanto entrou no ramo dos produtos
químicos.
Sua ascensão foi rápida. Em 1927, ingressou na bolsa de valores, e
ampliou sua atuação no setor químico, incluindo adubos e fibras
sintéticas. Investiu até mesmo na indústria petrolífera. Depois da
guerra do Vietnã, a Monsanto passou a focar mais intensamente o setor
agrário, o desenvolvimento de herbicidas e em seguida a produção de
sementes.
Nos anos oitenta, a biotecnologia foi declarada seu alvo
estratégico. O próximo passo foi a modificação consequente para uma
empresa agrícola – e os outros segmentos foram deixados de lado.
Por Marianne Falck, Hans Leyendecker e Silvia Liebrich, no
Süddeutsche Zeitung. Tradução de Regina Richau Frazão para o Outras
Palavras.O lado mais sujo da Monsanto
O grupo americano Monsanto[1] é um gigante no agronegócio – e é o
número um na área da controvertida tecnologia genética “verde”. Para
seus opositores, a Monsanto é um inimigo assustador. E continuam
acontecendo coisas intrigantes que fazem o inimigo parecer ainda mais
aterrorizante.
No mês passado, a organização europeia protetora do meio ambiente
“Amigos da Terra” e a Federação para meio Ambiente e Proteção à Natureza
Deutschland (BUND) quiseram apresentar um estudo sobre os efeitos do
herbicida glifosato no corpo humano. Os herbicidas que contêm glifosato
são carros-chefes da Monsanto. A empresa fatura mais de dois bilhões de
dólares somente com o agente Roundup. Os “herbicidas Roundup”, assim
sustenta a Monsanto, “têm uma longa história de uso seguro em mais de
100 países”.
Quando os vírus atacaram seus computadores, os ativistas se indagaram: será que estamos vendo fantasmas?
Entretanto existem também pesquisas alegando que o agente
possivelmente cause prejuízos a plantas e animais; e o estudo mais
recente demonstra que muitos moradores de grandes cidades vivem com o
veneno no próprio corpo, sem terem conhecimento disso. Como tantas outra
coisas relacionadas a esse assunto, é discutível o que exatamente o
pesticida é capaz de provocar no organismo humano.
Dois dias antes da publicação do estudo em dezoito países, um vírus
paralisou o computador do principal organizador, Adrian Bepp. Houve
ameaça de cancelamento das entrevistas coletivas em Viena, Bruxelas e
Berlin. “Surgiu pânico”, lembra Heike Moldenhauer da BUND. Os ativistas
do meio ambiente viram-se correndo contra o tempo.
Moldenhauer e seus colegas tinham feito diversas especulações sobre
os motivos e a identidade do misterioso agressor. A especialista em
tecnologia genética do BUND acredita que o principal objetivo do
desconhecido fornecedor do vírus tenha sido “gerar confusão”. Não há
nada pior para uma pesquisa do que cancelar uma coletiva da imprensa. “E
nós ficamos nos perguntando se estávamos vendo fantasmas”, diz
Moldenhauer.
Não há nenhum indício de que Monsanto tenha sido o fantasma, ou que
tenha algo a ver com o vírus. O grupo sustenta que não faria algo
assim. Preza “agir com responsabilidade”: “hoje em dia é muito fácil
fazer uma afirmação e de difundi-la”, diz a Monsanto. Dessa forma,
prossegue “periodicamente são feitas afirmações duvidosas e populistas
que denigrem nosso trabalho e nossos produtos, carecendo de qualquer
abordagem científica.”
Os críticos do grupo têm outra visão. Ela tem a ver com a espessa
trama tecida ao redor do mundo pela Monsanto, cujos entroncamentos estão
localizados nos serviços secretos norte-americanos, nas suas forças
armadas, em empresas de segurança privadas e, é claro, também junto ao
governo dos EUA.
Um número expressivo de críticos da Monsanto relata ataques
cibernéticos regulares, praticados com gabarito profissional. Também os
serviços secretos e o serviço militar gostam de contratar hackers e
programadores. Estes são especialistas em desenvolver cavalos de tróia e
vírus para penetrar em redes de computadores alheios. O ex-agente da
CIA Edward Snowden chamou atenção ao nexo entre as ações dos serviços de
notícias e as movimentações da economia. No entanto, esta ligação
perdeu força diante das demais denúncias.
Alguns dos poderosos defensores da Monsanto entendem bastante do
assunto da guerra cibernética. “Imagine a internet como uma arma que
está sobre a mesa. Ou você a pega, ou seu concorrente irá fazê-lo, mas
alguém será morto”, foi o que disse Jay Byrne em 2001, quando era chefe
de relações públicas na Monsanto.
É comum empresas lutarem com métodos escusos em função daquilo que
consideram como seu direito, como sendo o certo. Porém, os termos “amigo
ou inimigo”, “ele ou eu” já denotam linguagem de guerra. E numa guerra é
preciso ter aliados – por exemplo, aqueles instalados no serviço
secreto.
São conhecidos os contatos da Monsanto com o notório ex-agente
secreto Joseph Cofer Black, que colaborou na formulação da “lei da
selva”, na “campanha anti-terror” de George W. Bush. Ele é especialista
para trabalho sujo, da linha dura. Trabalhou para a CIA durante quase
trinta anos, sendo inclusive o chefe “antiterrorista”. Mais tarde seria o
vice-presidente da empresa de segurança particular Blackwater, que
mandou milhares de mercenários para o Iraque e o Afeganistão.
Pesquisas mostram como são estreitos os laços da direção da empresa
com o governo central em Washington e com representações diplomáticas
dos EUA no mundo inteiro. A Monsanto tem auxiliares eficazes em diversos
lugares. Antigos colabores da corporação ocupam altos postos nos EUA,
em departamentos governamentais e ministérios, em federações da
indústria e universidades. Por vezes, são relações quase simbióticas. De
acordo com informações da organização anti-lobby Open Secrets, no ano
passado 16 lobistas da Monsanto ocuparam cargos de alto nível no governo
norte-americano e em agências reguladoras.
Para a empresa, trata-se de ocupar novos mercados e em vender
alimentos a uma população mundial que cresce em ritmo alucinante. A
engenharia genética e as patentes relacionadas com plantas desempenham
um papel importante nesse contexto. Nos Estados Unidos, o milho e soja
geneticamente modificados representam 90% dos cultivos — e este
percentual cresce de modo constante também no resto do mundo.
Apenas no mercado europeu, nada acontece. Diversos países da União
Europeia (UE) têm muitas restrições com relação ao futuro da Monsanto, o
que visivelmente desagrada ao governo dos EUA. No ano de 2009, Ilse
Aigner, Ministra da Alimentação, Agricultura e Proteção ao Consumidor da
Alemanha, filiada ao Partido da União Social-Cristã, havia banido o
tipo de milho MON810 também dos campos alemães.
Ao viajar logo depois para os Estados Unidos, foi interpelada pelo
colega americano Tom Vilsack, com respeito à Monsanto. O político, do
Partido Democrata, havia sido governador no estado federal Iowa, de
característica rural, e logo tornou-se adepto dos transgênicos. Em 2001,
foi eleito pela bioindústria como “governador do ano”.
Infelizmente, não há registro da conversa entre Vilsack e Aigner.
Dizem que foi controvertida. Um representante do governo federal alemão
descreve o tom do diálogo da seguinte forma: houve “esforços maciços de
forçar uma mudança de rumo dos alemães com respeito à política
genética”. A fonte da informação não quis se pronunciar sobre o tipo dos
“esforços maciços”, nem sobre a tentativa de “forçar” alguma coisa.
Isto não se faz entre amigos ou parceiros.
Graças a Snowden e ao Wikileaks, o mundo pode imaginar o que
acontece entre amigos e parceiros, quando o poder e o dinheiro estão em
jogo. Dois anos atrás, o Wikileaks publicou despachos diplomáticos, que
incluíam detalhes sobre a Monsanto e a engenharia genética.
Em 2007, por exemplo, o então embaixador norte-americano em Paris,
Craig Stapleton, sugeriu ao governo dos EUA que elaborasse uma lista
suja dos países da União Europeia que estivessem dispostos a proibir o
plantio de sementes geneticamente modificadas por empresas
norte-americanas. O teor da mensagem secreta: “A equipe parisiense
sugere propor uma lista de medidas de retaliação que irá causar dores à
Europa”. “Dores”, “retaliação” – a rigor, essa não é exatamente a
linguagem da diplomacia.
A luta pela autorização do famoso milho geneticamente manipulado
MON810 na Europa foi conduzida pela Monsanto com muito trabalho de lobby
– e ao final, a empresa perdeu por completo. O produto foi banido
inclusive dos mercados prestigiados da França e da Alemanha. Uma aliança
entre políticos, agricultores e pessoas relacionadas às igrejas recusou
a engenharia genética nas plantações, e os consumidores não a querem em
seus pratos.
No entanto, a batalha ainda não terminou. Nas negociações iniciadas
nos mês passado entre os EUA e a UE, sobre um tratado de “livre”
comércio, os Estados Unidos esperam, entre outras coisas, uma abertura
dos mercados para a tecnologia genética.
Com o Tratado de Livre Comércio, EUA querem abrir o mercado de transgênicos na Europa
Fazer lobby por uma empresa nacional no exterior é algo visto como
dever cívico, nos EUA. Há muito, as mais significativas entre os
dezesseis agências de inteligência norte-americanas entendem seu
trabalho como apoio aos interesses econômicos norte-americanos no
cenário mundial. Alegando combater o terrorismo, não somente espionam
governos, órgãos públicos e cidadãos, mas também empenham-se — do seu
modo muito peculiar — a favor de interesses econômicos do país.
Alguns exemplos:
Várias décadas atrás, quando o Japão ainda não era uma potência
econômica, surgiu nos Estados Unidos a pesquisa “Japão 2000”, elaborada
por um colaborador do Rochester Institute of Technology (RIT). Através
de uma “política comercial temerária”, assim dizia o estudo, o Japão
estaria planejando uma espécie de conquista do mundo, e os perdedores
seriam os EUA. A segurança nacional dos Estados Unidos estaria ameaçada e
a CIA deu o grito de guerra.
Na competição global, a economia norte-americana tinha que ser
protegida dos “dirty tricks”, os truques sujos dos europeus, declarou o
ex diretor da CIA James Woolsey. Por esta razão, os “amigos do
continente europeu” estariam sendo espionados: os Estados Unidos são
limpos…
Edward Snowden esteve certa vez pela CIA na Suíça, e há dias
relatou a maneira como a empresa teria tentado envolver um banqueiro
suíço na espionagem de dados bancários. A União Europeia permitiu aos
serviços norte-americanos examinar em profundidade os negócios
financeiros de seus cidadãos. Segundo dizem, o objetivo é secar as
fontes financeiras do terror. Os meios e os fins, entretanto, são
altamente discutíveis.
Na Suíça, que anteriormente foi palco de muitas histórias de
agentes, desenrolou-se um dos episódios que tornaram a Monsanto
particularmente misteriosa: em janeiro de 2008, o ex agente da CIA Cofer
Black viajou para Zurique para encontrar-se com Kevin Wilson, na época,
o responsável pela segurança para questões globais. A pergunta, a
respeito do que os dois homens estariam falando, ficou no ar. Certamente
os assuntos eram os de sempre: opositores, negócios, inimigos mortais…
O jornalista investigativo Jeremy Scahill, autor da obra sobre a
empresa de mercenários Blackwater, escreveu em 2010, no jornal semanal
americano The Nation, sobre esse estranho encontro em Zurique. Tinha
recebido documentos vazados, a respeito do assunto. Deixavam claro que a
Monsanto estava querendo se defender contra ativistas que queriam
destruir suas plantações experimentais; contra críticos que se
posicionavam contra a empresa de modificação genética.
Cofer Black era, para todos os efeitos, a pessoa certa: “Vamos
tirar as luvas de pelica”, havia declarado após os ataques de 11 de
setembro, conclamando seus agentes da CIA a livrar-se de Osama bin Laden
no Afeganistão: “Apanhem-no: quero a cabeça dele dentro de uma caixa”.
Mas ele também entende muito do outro negócio do serviço secreto; aquele
que opera com fontes de acesso público.
Ao encontrar-se com Wilson, dirigente de segurança na Monsanto,
Cofer Black ainda era vice na Blackwater, cujos clientes eram, entre
outros, o Pentágono, o Departamento de Estado, a CIA, e logicamente,
empresas particulares. Mas em janeiro de 2008 houve muitos tumultos,
pois 17 civis foram assassinados no Iraque por mercenários da empresa de
segurança, e alguns homens da Blackwater chamaram atenção de
funcionários do governo iraquiano devido a atos de suborno.
Acontece que Cofer Black, na época, era também o chefe da empresa
de segurança Total Intelligence Solutions (TIS), uma subsidiára da
Blackwater, e que, apesar de sua reputação menos devastadora, contava
também com “experts” excelentes e versáteis…
De acordo com as próprias informações, a Monsanto fez negócio, na
época, com a TIS e não com a Blackwater. Era inquestionável que a
Monsanto fora abastecida pela TIS, com relatórios sobre as atividades
dos críticos – as quais poderiam representar um risco para a empresa,
seus colaboradores ou seus negócios operacionais. Fazia parte tanto
coletar informações sobre ataques terroristas na Ásia quanto escanear
páginas da internet e blogs. A Monsanto frisava que a TIS, obviamente,
só tinha usado material de acesso público…
Isso corresponderia aos métodos de Cofer Black. Então – nada de ações escusas.
Costumava haver boatos frequentes de que a Monsanto quisera assumir
o controle da TIS, objetivando a sua segurança geral. E hoje surgem
novos rumores, segundo os quais o grupo estaria avaliando a
possibilidade de assumir a empresa Academi, que formou-se após
reorganizações da antiga Blackwater.
Será que os rumores procedem? “Em geral, não discutimos os detalhes
do nosso relacionamento com os prestadores de serviço – a não ser que
essas informações já estejam disponíveis ao público”, foi a única
resposta da Monsanto.
Toda empresa possui a sua própria história, e da história da
Monsanto faz parte um assunto que queimou sua imagem não apenas junto
aos hippies: no passado, a Monsanto esteve na linha de frente dos
produtores do pesticida “Agente Laranja”, utilizado até janeiro de 1971
na guerra do Vietnã pelos militares norte-americanos.
Os constantes bombardeios químicos desfolhavam as florestas para
tornar o inimigo visível. Os campos eram envenenados para que o vietcong
não tivesse mais nada para comer. Nas áreas pulverizadas multiplicou-se
por dez o número de nascimentos de crianças com anomalias; nasciam sem
nariz, sem olhos, com hidrocefalia ou fendas no rosto – e as forças
armadas dos EUA asseguravam que o produto da Monsanto seria tão
inofensivo quanto a Aspirina.
Será que na guerra, tudo é permitido? Principalmente na moderna guerra cibernética?
Chama atenção o fato de que alguém esteja dificultando, hoje, a
vida dos críticos da Monsanto, ou que alguma mão invisível esteja
interrompendo carreiras. Mas, quem é esse alguém? São alvos de ataque
cientistas como a australiana Judy Carman, que, entre outros, tornou-se
conhecida com pesquisas de produtos transgênicos. Suas publicações são
questionadas por professores, os mesmos que tentam minimizar a
importância dos estudos de outros críticos da Monsanto.
Mas o assunto não se resume a escaramuças nos círculos científicos.
Pois diversas páginas da internet onde Carman publica suas pesquisas,
tornam-se alvo de ataques cibernéticos e, segundo impressão de
pesquisadora, são sistematicamente observadas. Exames do IP de seu site
demonstram que não apenas a Monsanto acessa regularmente essas páginas,
mas também diversos órgãos do governo norte-americano ligados às forças
armadas.
Entre outros, o Navy Network Information Center, a Federal Aviation
Administration e o United States Army Intelligence Center, um órgão do
exército para o treinamento de soldados em tarefas de espionagem. O
interesse da Monsanto nessas pesquisas pode ser observado, também no
caso de Carman. “Mas não entendo, por que o governo americano e o
exército mandam me observar“, diz ela.
Coisas estranhas aconteceram também com a GM Watch, uma organização
crítica da engenharia genética. A colaboradora Claire Robinson fala de
ataques cibernéticos constantes à página desde 2007. “Toda vez em que
aumentamos a segurança do site, nossos oponentes tornam-se mais tenazes e
seguem novos ataques, ainda piores”, explica. Também neste caso não se
acredita em coincidência.
Em 2012, quando o cientista francês Eric Séralini publicou uma
pesquisa bombástica sobre os riscos à saúde representados pelo milho
transgênico e o glifosato, o site da GM Watch foi atacado e bloqueado.
Isso se repetiu quando foi publicado o posicionamento do órgão europeu
de inspeção alimentar, a EFSA. Em ambos os casos, o momento foi
habilmente escolhido: no exato instante em que os editores tentavam
publicar os textos. Não foi possível determinar quem estava por trás dos
ataques.
A própria Monsanto, como já foi dito, faz questão de frisar que opera “com responsabilidade“.
No entanto, é fato que a empresa tem muitos interesses em jogo.
Trata-se de projetos legislativos, e em especial, das negociações em
curso, relacionadas ao Tratado de “livre” comércio entre EUA e UE. Os
capítulos sobre Agricultura e Indústria Alimentícia são particularmente
delicados. Os norte-americanos têm como meta a abertura dos mercados
europeus para os produtos até então proibidos. Ao lado das plantas
transgênicas, estão incluídos aditivos controversos e a carne bovina
tratada com hormônios. As negociações certamente ainda vão se arrastar
por alguns anos.
O assunto é polêmico e as negociações serão duras. Por isso, o
presidente Barack Obama apontou Islam Siddiqui como chefe das
negociações agrícolas. Como especialista, trabalhou durante muitos anos
para o ministério de Agricultura americano.
Mas, o que poucos sabem na Europa: de 2001 a 2008 ele representou,
como lobista registrado, a CropLife America, uma associação industrial
que representa os interesses de produtores de pesticidas e produtos
transgênicos. Entre eles, é claro, a Monsanto. “A rigor, a UE não
poderia aceitar tal interlocutor, devido a seus interesses, opina
Manfred Häusling que representa o Partido Verde no parlamento europeu.
Englentich, a rigor. No médio-alto alemão, esta palavra
(eigentlich) sinificava “servil”, o que não seria uma má descrição do
cenário atual — onde os políticos europeus, e em especial os alemães,
revelam uma atitude de surpreendente aceitação, diante do fato de serem
espionados com regularidade por órgãos norte-americanos.
Nota
[1] A Monsanto é o a maior empresa agrária do mundo, e também a que
lidera a engenharia genética. Em 2012, o grupo ampliou seu faturamento
em 14%, em comparação ao ano anterior, chegando a 13,5 bilhões de
dólares. O lucro subiu 25%, atingindo dois bilhões de dólares. No mundo
todo, a empresa emprega 21.500 trabalhadores e tem filiais em mais de 50
países.
Sua fundação data de 1901, pelo norte-americano John Queeny em St.
Louis, no Estado de Missouri. O nome foi uma homenagem à família de sua
esposa. Primeiro, Queeny produziu o adoçante sacarina. Em pouco tempo, o
fabricante de bebidas Coca-Cola passa a fazer parte de seus clientes.
Logo depois da I Guerra Mundial, a Monsanto entrou no ramo dos produtos
químicos.
Sua ascensão foi rápida. Em 1927, ingressou na bolsa de valores, e
ampliou sua atuação no setor químico, incluindo adubos e fibras
sintéticas. Investiu até mesmo na indústria petrolífera. Depois da
guerra do Vietnã, a Monsanto passou a focar mais intensamente o setor
agrário, o desenvolvimento de herbicidas e em seguida a produção de
sementes.
Nos anos oitenta, a biotecnologia foi declarada seu alvo
estratégico. O próximo passo foi a modificação consequente para uma
empresa agrícola – e os outros segmentos foram deixados de lado.
Publicado originalmente no Süddeutsche Zeitung.
Tradução de Regina Richau Frazão