sábado, 11 de janeiro de 2014

A importância da correta identificação botânica e do uso dos nomes científicos nos projetos de restauração ecológica

Por: Biol. Ricardo Pontes

Uma das etapas básicas nos projetos de restauração ecológica é a escolha das espécies adequadas à área a qual se pretende restaurar. Para tal, é de suma importância o levantamento florístico prévio, do qual resultará uma lista de espécies que poderão ser utilizadas para este fim. A correta execução desta etapa irá evitar a utilização de espécies não adaptadas aquele ambiente, levando a minimização de prejuízo econômico e o consequente atraso ou fracasso do projeto. Assim, é necessário ter conhecimento do correto nome da espécie. O nome correto das espécies traz consigo o acesso às informações sobre suas propriedades e usos, a identificação incorreta inviabiliza este acesso e, traz consigo informações erradas o que é o mais perigoso (Ferreira & Hopinks, 2004).  

Existem duas formas de identificação botânica, a que utiliza os nomes vernaculares ou nomes populares e a que utiliza os nomes científicos. Geralmente os nomes populares estão associados aos usos locais, a partir do conhecimento empírico dos mateiros, detentores do conhecimento tradicional local, conhecimento este que é passado através das gerações e que utilizam estes nomes para a identificação botânica local. No entanto, os nomes populares podem sofrer grande variação, sendo geralmente atribuídos nomes diferentes para a mesma espécie mesmo dentro de uma pequena área (município ou distrito) ou em alguns poucos casos o nome utilizado não sofre variação.Na identificação vernacular, um único nome popular pode ser utilizado para identificar várias espécies ou mesmo gêneros diferentes, como é o caso dos “angelins” da Amazônia. Segundo Ferreira & Hopinkins (2004), são citados para o Pará 27 espécies como o nome popular de angelins e suas variações (“angelim-pedra”, “angelim-falso”, “angelim-sais”, e.g.) e 97 espécies para todo o Brasil. Estes mesmos autores citam que os gêneros Abarema, Andira, Bowdichia, Dimorphandra, Dinizia, Enterolobium, Hymenolobium, Parkia, Vatairea, Vataireeopsis e Zygia, são comumente chamadas de angelins. Ou seja, em um projeto de restauração ecológica para uma determinada área, qual dos angelins deverá ser utilizado? O caminho inverso também pode ocorrer, a utilização de diversos nomes populares para uma mesma espécie. Neste caso, sendo reconhecida cientificamente como uma mesma espécie, não haverá problema, pois esta irá ocorrer no mesmo ambiente preferencial em toda a sua área de distribuição, se adaptando as mesmas condições de solo, pluviosidade e temperatura. Por exemplo, o caso da Leguminosa (Leguminosae) Dialium guianensis, conhecida nas matas da Paraíba como “quiritinga” e em Pernambuco como o “pau-ferro-da-mata”. Ou a espécies Miconia albicans mencionada na Paraíba como “cinzeiro” e em Pernambuco como “mexerica” ou “carrasco”. Apesar do nome popular diferente, trata-se cientificamente da mesma espécie.  
 
Muitas vezes espécies diferentes, mas com estruturas morfológicas vegetativas (tronco, casca e folhas) semelhantes, torna o trabalho, até mesmo, de botânicos experientes um tanto difícil. Um exemplo é o caso das “amesclas”: nas matas do litoral do litoral Norte da Paraíba, podemos identificar até três espécies de uma árvore conhecida popularmente como “amescla”, reconhecidas pelas folhas compostas e pela presença de látex (resina) transparente com um forte odor. Protium giganteum Engl., conhecida como “amesclão”, pode ser facilmente diferenciada pelo maior tamanho das folhas. No entanto, as demais, são sempre identificadas pelo nome de “amescla-de-cheiro” (Protium heptaphylum (Aubl.) Marchand), por suas semelhanças morfológicas vegetativas, sendo Protium aracouchini (Aubl.) Marchand (amesclinha) geralmente confundida com esta última. Somente após floração e/ou frutificação (fenômenos geralmente não muito considerados pelos mateiros) estas espécies podem ser mais facilmente diferenciadas por olhos mais treinados.

A outra forma de se identificar as espécies de uma área é utilizando-se a nomenclatura científica, que não sofre modificações entre regiões, ela é universal, única, não podendo ser utilizado o mesmo nome para duas espécies diferentes. Sua utilização obedece a regras contidas no Código Internacional de Nomenclatura Botânica, oferecendo assim, segurança na identificação de uma espécie, criando um mesmo tipo de linguagem em todo o mundo. Assim, o nome científico é composto por três nomes distintos, o primeiro refere-se ao gênero, agrupamento de espécies morfologicamente semelhantes, o segundo, ao epíteto específico, refere-se a exatamente o ente que está sendo identificado e o terceiro ao autor ou autores que descreveram (descobriram) a espécie. Por exemplo, na espécie Tillandsia paraibensis R.A.Pontes, o gênero Tillandsia está ligado a um grupo de bromélias semelhantes, paraibensis a espécie encontrada no estado da Paraíba e R.A.Pontes ao autor da espécie.Como vemos, o uso de nomes populares está ligado intimamente às populações locais, a sua cultura, história e relação com o meio ambiente, variando muito, mesmo dentro de uma microrregião geográfica, o que dificulta a troca de informações, especialmente quando falamos em aquisição de sementes e mudas para plantio. Será que a planta que estou precisando é exatamente a que estou comprando ou cultivando? Na identificação científica este problema não ocorrerá, já que apenas um nome será atribuído à espécie em estudo.
  
Ferreira, G. C.; Hopkins, M. J. Manual de identificação botânica e anatômica - Angelim. 1 ed. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2004.




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