Por: Biol. Ricardo Pontes
Uma das etapas básicas nos projetos de restauração ecológica é a
escolha das espécies adequadas à área a qual se pretende restaurar. Para
tal, é de suma importância o levantamento florístico prévio, do qual
resultará uma lista de espécies que poderão ser utilizadas para este
fim. A correta execução desta etapa irá evitar a utilização de espécies
não adaptadas aquele ambiente, levando a minimização de prejuízo
econômico e o consequente atraso ou fracasso do projeto. Assim, é
necessário ter conhecimento do correto nome da espécie. O nome correto
das espécies traz consigo o acesso às informações sobre suas
propriedades e usos, a identificação incorreta inviabiliza este acesso
e, traz consigo informações erradas o que é o mais perigoso (Ferreira
& Hopinks, 2004).
Existem duas formas de identificação botânica, a que utiliza os nomes
vernaculares ou nomes populares e a que utiliza os nomes científicos.
Geralmente os nomes populares estão associados aos usos locais, a partir
do conhecimento empírico dos mateiros, detentores do conhecimento
tradicional local, conhecimento este que é passado através das gerações e
que utilizam estes nomes para a identificação botânica local. No
entanto, os nomes populares podem sofrer grande variação, sendo
geralmente atribuídos nomes diferentes para a mesma espécie mesmo dentro
de uma pequena área (município ou distrito) ou em alguns poucos casos o
nome utilizado não sofre variação.Na identificação vernacular, um único
nome popular pode ser utilizado para identificar várias espécies ou
mesmo gêneros diferentes, como é o caso dos “angelins” da Amazônia.
Segundo Ferreira & Hopinkins (2004), são citados para o Pará 27
espécies como o nome popular de angelins e suas variações
(“angelim-pedra”, “angelim-falso”, “angelim-sais”, e.g.) e 97 espécies
para todo o Brasil. Estes mesmos autores citam que os gêneros Abarema,
Andira, Bowdichia, Dimorphandra, Dinizia, Enterolobium, Hymenolobium,
Parkia, Vatairea, Vataireeopsis e Zygia, são comumente chamadas de
angelins. Ou seja, em um projeto de restauração ecológica para uma
determinada área, qual dos angelins deverá ser utilizado? O caminho
inverso também pode ocorrer, a utilização de diversos nomes populares
para uma mesma espécie. Neste caso, sendo reconhecida cientificamente
como uma mesma espécie, não haverá problema, pois esta irá ocorrer no
mesmo ambiente preferencial em toda a sua área de distribuição, se
adaptando as mesmas condições de solo, pluviosidade e temperatura. Por
exemplo, o caso da Leguminosa (Leguminosae) Dialium guianensis,
conhecida nas matas da Paraíba como “quiritinga” e em Pernambuco como o
“pau-ferro-da-mata”. Ou a espécies Miconia albicans mencionada na
Paraíba como “cinzeiro” e em Pernambuco como “mexerica” ou “carrasco”.
Apesar do nome popular diferente, trata-se cientificamente da mesma
espécie.
Muitas vezes espécies diferentes, mas com estruturas morfológicas
vegetativas (tronco, casca e folhas) semelhantes, torna o trabalho, até
mesmo, de botânicos experientes um tanto difícil. Um exemplo é o caso
das “amesclas”: nas matas do litoral do litoral Norte da Paraíba,
podemos identificar até três espécies de uma árvore conhecida
popularmente como “amescla”, reconhecidas pelas folhas compostas e pela
presença de látex (resina) transparente com um forte odor. Protium
giganteum Engl., conhecida como “amesclão”, pode ser facilmente
diferenciada pelo maior tamanho das folhas. No entanto, as demais, são
sempre identificadas pelo nome de “amescla-de-cheiro” (Protium
heptaphylum (Aubl.) Marchand), por suas semelhanças morfológicas
vegetativas, sendo Protium aracouchini (Aubl.) Marchand (amesclinha)
geralmente confundida com esta última. Somente após floração e/ou
frutificação (fenômenos geralmente não muito considerados pelos
mateiros) estas espécies podem ser mais facilmente diferenciadas por
olhos mais treinados.
A outra forma de se identificar as espécies de uma área é
utilizando-se a nomenclatura científica, que não sofre modificações
entre regiões, ela é universal, única, não podendo ser utilizado o mesmo
nome para duas espécies diferentes. Sua utilização obedece a regras
contidas no Código Internacional de Nomenclatura Botânica, oferecendo
assim, segurança na identificação de uma espécie, criando um mesmo tipo
de linguagem em todo o mundo. Assim, o nome científico é composto por
três nomes distintos, o primeiro refere-se ao gênero, agrupamento de
espécies morfologicamente semelhantes, o segundo, ao epíteto específico,
refere-se a exatamente o ente que está sendo identificado e o terceiro
ao autor ou autores que descreveram (descobriram) a espécie. Por
exemplo, na espécie Tillandsia paraibensis R.A.Pontes, o gênero
Tillandsia está ligado a um grupo de bromélias semelhantes, paraibensis a
espécie encontrada no estado da Paraíba e R.A.Pontes ao autor da
espécie.Como vemos, o uso de nomes populares está ligado intimamente às
populações locais, a sua cultura, história e relação com o meio
ambiente, variando muito, mesmo dentro de uma microrregião geográfica, o
que dificulta a troca de informações, especialmente quando falamos em
aquisição de sementes e mudas para plantio. Será que a planta que estou
precisando é exatamente a que estou comprando ou cultivando? Na
identificação científica este problema não ocorrerá, já que apenas um
nome será atribuído à espécie em estudo.
Ferreira, G. C.; Hopkins, M. J. Manual de identificação
botânica e anatômica - Angelim. 1
ed. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2004.
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