Divulgado em: 23/04/2014
Uma
iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria
com universidades federais de cinco estados nordestinos, está tentando
aproximar das pessoas comuns o misterioso e ainda desconhecido mundo dos
fungos. O Programa de Pesquisa em Biodiversidade do Semiárido (PPBio
Semiárido), criado em 2004, tem como objetivo “dissecar” todas as
características deste clima no país, e depois transmitir as novas
descobertas e conhecimentos à sociedade brasileira. Inclusive as que
dizem respeito aos bolores, cogumelos e afins.
Como o Brasil é o país de maior
biodiversidade do planeta, era de se esperar que tivéssemos grandes
coleções botânicas e zoológicas. Por motivos diversos, no entanto, essa
correlação não existe. Mas a manutenção, ampliação e informatização dos
acervos biológicos são indispensáveis para a disponibilização on-line
dos dados sobre a biodiversidade, e é justamente isso que faz o PPBio.
Agora não é mais preciso recorrer a sites de busca ou livros de Ciências
e Biologia para conhecer e estudar os fungos, por exemplo: 1.461
espécies já foram cadastradas no banco de dados do programa. E os
resultados de todas as expedições podem ser vistos no endereço
www.uefs.br/ppbio.
Um dos coordenadores do projeto é o
paulista Iuri Goulart Baseia, 45 anos, professor do Centro de
Biociências da UFRN. Mestre em Biologia dos Fungos e doutor em Botânica,
é ele o responsável por comandar pesquisadores de sete campus do
Nordeste nas expedições em busca de fungos das mais variadas espécies
pela Caatinga da região. “As pessoas costumam pensar que o Semiárido é
pobre e não possui variedade de espécies animais, vegetais e de fungos.
Mas elas estão enganadas, e o PPBio prova justamente isso”, afirmou.
Estudos do programa estimam que só nesse
bioma brasileiro existam mais de 20 mil espécies diferentes. Além da
equipe de Fungos, capitaneada por Baseia, ainda fazem parte do projeto
as de Vertebrados, Invertebrados e Plantas. O processo de pesquisa é
realizado por meio de viagens em seis áreas definidas como de “extrema
importância biológica”, e espalhadas pelos estados do Ceará, Pernambuco,
Paraíba, Piauí e Bahia, além do Rio Grande do Norte, é claro. “Fazemos
cerca de seis expedições por ano, com uma média de sete dias em cada uma
delas. Coletamos amostras e depois as trazemos para analisar aqui na
universidade”, explica o professor.
Mas tudo isso tem um custo: cerca de R$
10 mil por expedição. “É um pouco caro realizar essas pesquisas, porque
elas envolvem bastante gente. E como somos financiados pelo poder
público, é preciso empregar bem essa verba e fazer com que ela renda.
Mas as descobertas são muito satisfatórias, e compensam o que foi
investido”, diz Baseia.
Tomando por base os resultados da
participação da UFRN no PPBio, percebe-se que cada real empregado no
projeto é mesmo muito bem utilizado. Um dos “frutos” foi a colaboração
no livro Guia dos Fungos Comuns do Semiárido Brasileiro. Com linguagem
técnica e edição bilíngue, a publicação é destinada a estudantes e
biólogos. Mas também são produzidas cartilhas explicativas, com
linguajar mais acessível, para a distribuição em escolas públicas das
cidades onde o programa realiza suas pesquisas e coletas.
Segundo Iuri, outro livro está sendo
produzido por sua equipe, e deve ser lançado até o próximo mês de julho.
“Estamos trabalhando nisso e temos o material praticamente pronto.
Essas publicações são uma forma que temos de devolver à população o que
foi investido no financiamento das nossas pesquisas, através do
pagamento de impostos”, comentou.
Outra área muito importante no estudo
dos fungos é a indústria farmacêutica. Quando os pesquisadores percebem
que uma espécie tem potencial e ocorre em capacidade satisfatória para
ser explorada, coletam uma amostra e a levam até o Departamento de
Bioquímica da UFRN. As experiências feitas lá revelam se as substâncias
presentes em determinado fungo têm ou não potencial farmacológico. Iuri
Baseia, porém, lembra que esse não é o foco das pesquisas do PPBio
Semiárido. “É claro que um remédio pode ser desenvolvido a partir de um
dos nossos fungos. E seria ótimo se isso acontecesse. Mas é sempre bom
ressaltar que o nosso objetivo é outro. Queremos, antes de qualquer
outra coisa, conhecer cada vez mais o Semiárido”, destacou.
Programa tem abrangência nacional
O Programa de Pesquisa
em Biodiversidade (PPBio) foi criado pelo Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação em 2004, como parte do Plano Plurianual do Governo
Federal. De abrangência nacional, o projeto tem como objetivo central
articular as competências regionais e nacional para que o conhecimento
da biodiversidade brasileira seja ampliado e disseminado de forma
planejada e coordenada. O programa está estruturado em três componentes
principais: inventários, coleções e temáticos, e possui diversos núcleos
regionais e projetos parceiros pelo país.
O PPBio iniciou suas atividades na
região amazônica. Posteriormente, foi expandido para o Semiárido, com a
colaboração da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia. Em
2010, a Mata Atlântica também foi abrangida pelo PPBio, através de um
projeto piloto coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, em parceria
com o Jardim Botânico e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Por
meio de ações da rede ComCerrado, o programa também passou a englobar,
recentemente, o bioma Cerrado.
Perfil
Iuri Goulart Baseia
Nascido em São José do
Rio Preto, no interior de São Paulo, Iuri Goulart Baseia veio para o
Nordeste ainda criança, aos 10 anos. O pai, físico, havia passado em um
concurso para professor da Universidade Federal da Paraíba, e mudou-se
com toda a família para João Pessoa. “Meu coração está aqui. Me
considero muito mais nordestino”, garante.
Ele viveu na capital paraibana até se
formar em Ciências Biológicas pela UFPB. Depois foi para o Recife, onde
se tornou mestre em Biologia de Fungos na federal de Pernambuco. O
doutorado, em Botânica, foi feito na USP, em São Paulo.
Iuri ainda voltou ao Recife e passou lá
mais dois anos, até ser aprovado no concurso da UFRN, onde começou a
lecionar em 2004. “Este mês eu completo 10 anos aqui na universidade. Já
fui chefe do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia, entre
outros cargos. Mas acredito que minha maior alegria na instituição foi o
Programa de Pós-Graduação em Sistemática e Evolução, que hoje já forma
mestres e doutores. Antes isso era impossível em Natal”, falou.
Baseia também atua como coordenador do
Programa de Pós-Graduação em Sistemática e Evolução e curador da Coleção
de Fungos do Herbário UFRN. Ele ainda é bolsista de produtividade CNPq
desde 2006 e possui experiência em botânica criptogâmica, com ênfase em
biologia de fungos.
Números
- 2004 foi o ano da criação do Programa de Pesquisa em Biodiversidade pelo governo Federal
- 5 são os estados do Nordeste envolvidos no PPBio Semiárido: Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe, Paraíba e Bahia.
- 6 é o número de expedições realizadas anualmente pelos pesquisadores do programa.
- 1.461 é o número de espécies de fungos já cadastradas no banco de dados do PPBio.
- 20.000 é o número estimado de espécies animais, vegetais e de fungos existentes no Semiárido brasileiro.
- 10.000 reais é o custo médio de cada expedição realizada pelo PPBio no sertão nordestino.
Fonte: Novo Jornal.
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