terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Cientistas querem classificar os golfinhos como "pessoas não-humanas" por sua grande inteligência

Osmairo Valverde da redação de Brasília



Os golfinhos são tão inteligentes que devemos encará-los como pessoas não-humanas, é o que reivindica um projeto de lei.


Uma coalizão de cientistas, filósofos e grupos dos direitos dos animais estão declarando, oficialmente, que os golfinhos não podem ser classificados como simples criaturas. Um dos tópicos do projeto é impedir que eles sejam mantidos em cativeiro em parques aquáticos e severas leis contra pescadores que os atacarem.


As chamadas “baleias” assassinas também seriam classificadas da mesma forma, já que elas são golfinhos e não baleias, como boa parte da população pensa. 


Outro fator importante é que as baleias também entrariam nesta lista, o que oficialmente transformaria os pescadores baleeiros em assassinos, de acordo com a Associação Americana para o Avanço da Ciência, na conferência anual que ocorreu em Vancouver, Canadá. Grandes empresas como as petrolíferas teriam que ter mais rigor ao explorar uma região com grande fluxo de golfinhos e baleias, buscando respeitá-los.


O filósofo Thomas White comentou: “A evidência científica agora é forte o suficiente para apoiar a alegação de que os golfinhos são como os seres humanos, auto-conhecedores, seres inteligentes, com emoções e personalidades. Assim, os golfinhos devem ser considerados como pessoas não-humanas, sendo valorizados como indivíduos. Do ponto de vista ético, as lesões, mortes e cativeiro é algo errado”.


O projeto de lei afirma que todos os membros da ordem dos cetáceos – baleias, golfinhos e botos – tem o direito à vida. Ele também diz que ninguém tem o direito de possuir uma criatura dessas ou fazer coisas que agridam seus direitos, liberdade e normas.


Quando a comparação é tomada pelo cérebro, os golfinhos possuem o segundo maior cérebro do reino animal comparado com seu peso corporal, ficando atrás apenas dos seres humanos. A conferência provou que os golfinhos são autoconscientes, podendo se reconhecer ao olhar no espelho. 


Algumas provas científicas sobre a inteligência dos golfinhos:
  1. Quando dada a oportunidade, os golfinhos assistem TV e seguem as instruções apresentadas na tela.
  2. Os golfinhos podem ser ensinados a entender as palavras humanas, frases e demandas.
  3. Como os seres humanos, os golfinhos são altruístas e há exemplos que mostram que eles ajudam banhistas que foram atacados por tubarões.
  4. Eles usam linguagem corporal. Pular, saltando fora da água e desembarcando ao lado de outro golfinho, significa "eu quero ir agora!".
  5. Eles têm sotaques regionais. Um apito dado por um golfinho do País de Gales é completamente diferente de outro que vive na costa da Irlanda.
  6. Eles têm uma forma de diabetes quando adultos, mas eles são capazes de "ligar ou desligar" a doença. Aprender como esse processo funciona poderia ser a chave para a cura em nós humanos.
  7. Os machos atraem as fêmeas apresentando buquês de plantas daninhas, pedaços de madeira e detritos marinhos, como uma forma de cortejar.


domingo, 21 de dezembro de 2014

À venda: seu nome em uma prestigiada publicação científica

Pesquisas constatam irregularidades preocupantes em artigos científicos

Por Charles Seife

Nos últimos anos sinais de desonestidade na literatura revisada por
pares apareceram por todo o universo publicações científicas.
Klaus Kayser tem publicado periódicos científicos eletrônicos há tanto tempo, que ainda se lembra quando os enviava a assinantes em disquetes.

Seus 19 anos de experiência o deixaram perfeitamente ciente do problema de fraudes científicas. Em sua opinião, ele toma medidas extraordinárias para proteger a publicação que edita atualmente: Diagnostic Pathology.

Para impedir que autores tentem fazer passar imagens de microscópio copiadas da internet como se fossem suas próprias, ele exige que eles também lhe enviem as lâminas de vidro originais (junto com os artigos).

Mas, apesar de sua vigilância, sinais de possíveis más condutas em pesquisas se infiltraram em alguns artigos publicados em Diagnostic Pathology.

Seis dos 14 artigos da edição de maio de 2014, por exemplo, contêm suspeitas repetições de frases e outras irregularidades. Quando a Scientific American alertou Kayser, ele aparentemente não estava ciente do problema. “Ninguém me disse isso”, defendeu-se. “Sou muito grato a vocês”.

A Diagnostic Pathology, de propriedade da editora Springer, é considerada uma publicação científica respeitável. Sob o comando de Kayser, seu “fator de impacto”, uma medida grosseira da reputação de uma publicação especializada, baseada no número de vezes que um artigo é citado na literatura científica publicada, é 2,411, o que a coloca solidamente nos 25% superiores de todas as publicações científicas monitoradas pela Thomson Reuters em sua publicação Journal Citation Reports; e ocupa o 27º lugar do total de 76 periódicos de patologia classificados.

A publicação de Kayser não está sozinha.

Nos últimos anos, sinais semelhantes de trapaças, ou desonestidade, na literatura revisada por pares surgiram em várias edições do universo de publicações científicas, inclusive nas pertencentes a potências editoriais como a Wiley, Public Library of Science, Taylor & Francis e o Nature Publishing Group (que publica a Scientific American).

A aparente fraude está ocorrendo à medida que o mundo de publicações e pesquisas especializadas passa por rápidas mudanças.

Cientistas, para os quais artigos publicados são o caminho para promoções, estabilidade de emprego/cargo ou via de apoio para subvenções, estão competindo mais acirradamente que nunca para conseguir a inclusão de seus artigos em periódicos revisados por pares.

Embora publicações científicas estejam proliferando na internet, a oferta ainda é incapaz de acompanhar a incessante demanda por veículos (outlets) científicos respeitáveis.

A preocupação é que essa pressão possa levar à desonestidade, à fraude.

Os artigos duvidosos não são fáceis de detectar. Tomados individualmente cada trabalho de pesquisa parece legítimo. Mas em uma investigação realizada pela Scientific American, que analisou a linguagem empregada em mais de 100 artigos científicos, foram encontradas evidências de alguns padrões preocupantes — sinais do que parece ser uma tentativa de burlar o sistema de revisão por pares em escala industrial.

Um dos artigos publicados na edição de maio de 2014 de Diagnostic Pathology, por exemplo, superficialmente parece ser uma típica metanálise da literatura revisada por pares. Seus autores, oito cientistas da Universidade Médica de Guangxi, na China, avaliam se diferentes variações em um gene conhecido como XPC podem ser associadas a câncer gástrico. Eles não encontram nenhuma ligação desse tipo e admitem que seu artigo não é a palavra final sobre o assunto:

“No entanto, é necessário conduzir amplos estudos de amostras, utilizando métodos padronizados imparciais de genotipagem, amostras homogêneas de pacientes com câncer gástrico, e controles bem estabelecidos (com condições muito parecidas). Além disso, interações gene-gene e gene-ambiente também deveriam ser consideradas na análise. Estudos desse tipo, que levam em conta esses fatores, talvez possam levar futuramente à nossa melhor e mais abrangente compreensão da associação entre os polimorfismos XPC e o risco de câncer gástrico”.

Essa é uma conclusão perfeitamente normal para um artigo perfeitamente comum. Não é nada que devesse disparar quaisquer sinais de alarme.

Mas compare-o com um trabalho publicado vários anos antes em European Journal of Human Genetics (de propriedade do Nature Publishing Group), uma metanálise sobre se variações em um gene conhecido como CDH1 poderiam ser associadas ao câncer de próstata (CPa) e encontrará o seguinte comentário:

“No entanto, é necessário conduzir amplos ensaios utilizando métodos padronizados imparciais, pacientes homogêneos com PCa e controles bem combinados, com avaliação “cega” (desconhecendo) dos dados. Além disso, interações gene-gene e gene-ambiente também deveriam ser consideradas na análise. Estudos desse tipo, que levam em conta esses fatores, talvez possam levar futuramente à nossa melhor e mais abrangente compreensão da associação entre o polimorfismo CDH1—160 C/A e o risco de CPa”.

O palavreado é praticamente idêntico, inclusive a estranha frase “levar futuramente à nossa melhor e mais abrangente compreensão”. As únicas diferenças substanciais são os genes específicos (CDH1 em vez de XPC) e a doença (câncer gástrico em vez de PCa).

Esse não é um simples caso de plágio. Muitas equipes de pesquisas aparentemente independentes andaram plagiando a mesma passagem.

Um artigo publicado em PLoS ONE talvez possa levar futuramente à “nossa melhor e mais abrangente compreensão” da associação entre mutações no gene XRCC1 e o risco de câncer de tireóide.

Outro trabalho, publicado em International Journal of Cancer (publicada pela Wiley) pode acabar levando à “nossa melhor e mais abrangente compreensão” da associação entre mutações no gene XPA e o risco de câncer... e assim por diante.

Às vezes há pequenas variações na redação, mas em mais de uma dezena de artigos encontramos uma linguagem quase idêntica com diferentes genes e doenças aparentemente inseridos no parágrafo em questão; como uma versão surreal de Mad Libs, um modelo de jogo de palavras inventado na década de 50, no qual os participantes preenchem lacunas com termos ausentes em uma dada passagem.

A Scientific American encontrou outros exemplos de pesquisas do tipo “preencha as lacunas”.

Uma busca da frase “excluído devido à óbvia irrelevância” recuperou mais de uma dezena de artigos de vários tipos, todos, exceto um, escritos por cientistas da China.

A formulação “utilizando uma forma padronizada, dados de estudos publicados” também produz mais de uma dezena de artigos de pesquisa, todos da China. O chamado gráfico de dispersão em funil, funil invertido ou “árvore de natal” (funnel plot, em inglês) de “Begger” detecta dezenas de casos, todos procedentes da China.

“Esse sistema de verificação é particularmente revelador. Não existe uma coisa como um funil de Begger. “Ele simplesmente não existe. Essa é a questão”, salienta Guillaume Filion, um biólogo no Centro para Regulação Genômica em Barcelona, na Espanha (pdf).

Dois estatísticos — Colin Begg e Matthias Egger — inventaram, cada um, testes e ferramentas para avaliar o viés de uma publicação e procurar preconceitos que se infiltramem metanálises. O “funil de Begger” parece ser um híbrido acidental da fusão dos dois nomes.

Filion detectou a proliferação de testes “de Begger” por acaso.

Enquanto procurava por tendências em artigos em publicações científicas médicas, ele encontrou artigos que tinham títulos quase idênticos, escolhas similares de gráficos e os mesmos erros peculiares, como o “funil de Begger”.

Ele presume que os trabalhos vieram da mesma fonte, embora tenham sido ostensivamente escritos por diferentes grupos de autores. “É difícil imaginar que 28 pessoas inventassem independentemente o nome de um teste estatístico”, argumenta Filion. “É por isso que ficamos muito chocados”.

Uma rápida busca na internet revela serviços que oferecem, por uma taxa, organizar a autoria de trabalhos a serem publicados em veículos revisados por pares. Eles parecem atender a pesquisadores que procuram uma maneira rápida [e desonesta] para serem publicados em um periódico científico de prestígio internacional.

Em novembro, a Scientific American pediu a um repórter que fala mandarim, a língua oficial da China, que contatasse a MedChina, que oferece dezenas de contratos/acordos de “temas científicos para venda” e “transferência de artigos” para publicações científicas.

Posando como uma pessoa interessada em comprar uma autoria científica, o repórter conversou com um representante da entidade, que lhe explicou que os artigos já estavam mais ou menos aceitos para publicação em periódicos especializados revisados por pares. Aparentemente, tudo o que precisava ser feito era um pouco de trabalho de edição e revisão.

O preço, por sua vez, dependia, em parte, do fator de impacto da publicação-alvo e de se o artigo era experimental ou metanalítico.

Nesse caso, o representante da MedChina ofereceu a autoria de uma metanálise que associava uma proteína ao câncer de tireóide papilar destinada a ser publicada em um periódico com fator de impacto de 3,353. O custo: 93 mil renmimbis (RMB, a moeda oficial da China) equivalentes a cerca de US$ 15 mil.

O veículo mais provável pretendido para o artigo mediado pela MedChina é a publicação Clinical Endocrinology; um de cinco periódicos científicos com fator de impacto de 3,353 e o mais próximo do assunto descrito.

“Obviamente, essa é uma questão de grande preocupação”, admite John Bevan, um editor sênior da publicação. “Estou alarmado ao pensar que isso está acontecendo e inundando o mercado”.

Aproximadamente duas semanas depois de ter sido contatado pela Scientific American,  Bevan confirmou que um artigo de aspecto suspeito sobre biomarcadores para câncer de tireóide papilar, que teve o acréscimo de um autor durante o processo de revisões, foi identificado e rejeitado.

Grande parte do financiamento para esses trabalhos suspeitos vem do governo chinês.

Dos primeiros 100 artigos identificados pela Scientific American, 24 haviam recebido financiamento da Fundação Nacional de Ciência Natural da China (NSFC, na sigla em inglês), uma agência governamental de financiamento equivalente a Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos. Outros 17 reconheceram que obtiveram subvenções de outras fontes do governo.

Yang Wei, presidente da NSFC, confirmou que os 24 trabalhos suspeitos identificados pela Scientific American foram posteriormente encaminhados ao Birô de Disciplina, Inspeção, Supervisão e Auditoria da Fundação (pdf), que investiga várias centenas de alegações de má conduta a cada ano.

“Dezenas de ações disciplinares têm sido tomadas pela NSFC anualmente por má conduta em pesquisas, embora casos de ghostwriting (artigos assinados por “escritores-fantasmas”, em tradução literal) sejam menos comuns”, informou Yang por e-mail.

No ano passado, uma das ações disciplinares da entidade envolveu um cientista que comprou uma proposta de financiamento de um site na internet. Yang salienta que a NSFC toma medidas para combater má conduta, o que inclui a recente instalação de uma “verificação de similaridade” para detectar possíveis plágios em propostas para financiamentos.

(No ano em que o sistema entrou on-line a verificação encontrou várias centenas de casos de “similaridades consideráveis” em um total de cerca de 150 mil solicitações de verbas, informou Yang.) Mas quando se trata de “fábricas de artigos acadêmicos não temos muita experiência e certamente ficaremos felizes em ouvir suas sugestões”, admitiu ele.

Alguns editores só estão se inteirando agora do problema das “fábricas de artigos” chinesas.

“Eu não estava ciente de que havia um mercado para autorias por aí”, reconhece Jigisha Patel, diretor editorial associado da BioMed Central para integridade de pesquisa. Agora que a editora de publicações científicas (de propriedade da Springer e publicadora da Diagnostic Pathology) foi alertada para o problema, “podemos investigar isso e lidar com isso”, garante Patel.

Duas semanas após ter sido contatada pela Scientific American, a BioMed Central anunciou que havia identificado cerca de 50 manuscritos que tinham sido avaliados por pares revisores falsos. A editora declarou ao Retraction Watch blog [um blog que monitora retratações acadêmicas] que “uma terceira parte pode estar envolvida, e influenciando o processo de revisão por pares”. É possível que esses manuscritos tenham vindo de fábricas de artigos.

A Scientific American conseguiu verificar os títulos e autores de cerca de meia dúzia deles. Todos parecem muito similares em estilo e assunto a outras metanálises escritas por fábricas de artigos, e todos eram de grupos de autores chineses.

Outras editoras começaram a combater o fluxo de materiais duvidosos.

Damian Pattinson, diretor editorial da PLoS ONE, informa que a publicação instituiu salvaguardas em abril passado. “Toda metanálise que recebemos tem que passar por uma verificação editorial específica... “que força autores a fornecerem informações adicionais, inclusive uma justificativa do porquê eles realizaram o estudo, em primeiro lugar”, explica.

“Como resultado disso, a proporção de artigos que de fato são encaminhados a revisores caiu cerca de 90%. Portanto, estamos muito cientes desse problema”.

Ainda assim, a lista compilada pela Scientific American contém quatro artigos suspeitos que foram publicados em PLoS ONE depois que as salvaguardas foram instituídas, e a autoria de um próximo artigo da PLoS ONE foi colocada à venda pela MedChina, enquanto o material estava sendo escrito.

Quando perguntamos a Pattinson sobre esses artigos, ele respondeu: “Corrigiremos e retrataremos artigos se houver qualquer indicação de má conduta. A questão é um problema, do qual estamos muito cientes”.

A BMC, Public Library of Science e outras editoras utilizam software de verificação de plágio para tentar reduzir fraudes. Mas software nem sempre resolve esse problema em particular em publicações científicas, adverte Patel, acrescentando: “fábricas de artigos acrescem mais uma camada de complexidade ao problema. Isso é muito preocupante”.

No momento, editoras estão travando uma batalha contra a corrente, muito difícil. “Sem informação privilegiada (de insiders) é muito difícil policiar isso”, queixa-se John Bevan da Clinical Endocrinology.

A publicação e sua editora, a Wiley, estão tentando fechar brechas no processo editorial para detectar mudanças tardias suspeitas em autorias e outras irregularidades. “É preciso aceitar que pessoas estão submetendo trabalhos em boa fé e honestidade”, argumenta Bevan.

Essa é, de fato, a ameaça essencial.

Agora que várias empresas descobriram como ganhar dinheiro em cima da má conduta científica, essa suposição de honestidade está correndo o risco de se tornar um anacronismo.

“Todo o sistema de revisão por pares funciona na base da confiança”, salienta Damian Pattinson, e acrescenta que, se é questionada, o sistema tem dificuldade para lidar com isso.

“Temos um problema aqui”, admite Guillaume Filion. Ele acredita que o dilúvio está apenas começando. “Há tanta pressão e tanto dinheiro em jogo que veremos todos os tipos de excessos no futuro”.

Reportagem adicional por Paris Liu.

A lista citada da Scientific American contém 100 artigos publicados que parecem ter as características de ciência do tipo “preencha as lacunas”.

A inclusão nela não implica que qualquer dado trabalho tenha sido escrito por uma fábrica de artigos, nem implica que seja definitivamente um plágio. Mas, em vista do padrão de redação e das similaridades desses materiais com outros publicados previamente, acreditamos que eles são dignos de escrutínio por seus editores. >>Ver a lista [em inglês].

Há muito mais artigos suspeitos por aí; e muitos mais são publicados todos os dias. Esses simplesmente são os 100 primeiros que encontramos.

Leituras adicionais (em inglês):

Filion, Guillaume. "A flurry of copycats on PubMed."

Oransky, Ivan. "Publisher discovers 50 manuscripts involving fake peer reviewers."

Ioannidis J.P.A., Chang C. Q., Lam T. K., Schully S. D., Khoury M. J. "The Geometric Increase in Meta-Analyses from China in the Genomic Era." PLoS ONE 8(6): e65602. doi:10.1371/journal.pone.0065602

Hvistendahl, Mara. "China's Publication Bazaar." Science, 29 November 2013, pp. 1035–1039. DOI: 10.1126/science.342.6162.1035

Publicada em Scientific American em 17 de dezembro de 2014.


sábado, 20 de dezembro de 2014

As pesquisas científicas e o poder de quem paga

por Gabriel Bonis, de Milão — publicado em 11/05/2014 09:15

Editora do "British Medical Journal" sugere maior transparência nos estudos científicos

Fiona Godlee
Godlee é a primeira mulher a dirigir o BMJ
Fiona Godlee é, desde 2005, editora-chefe do British Medical Journal (BMJ), uma das mais antigas e respeitadas publicações científicas do mundo, fundada em 1840. Graduada em Medicina pela Universidade de Cambridge (Inglaterra), ela é uma das responsáveis por avaliar estudos clínicos de diversas partes do mundo enviados ao BMJ. “Há diversas evidências de que estudos financiados por empresas são mais propensos a conclusões favoráveis aos produtos do financiador.”
 
Primeira mulher a comandar o BMJ, que tem uma parceria com o Ministério da Saúde para fornecer conteúdos de seu acervo a profissionais do País, Godlee vem ao Brasil nesta semana para o Congresso Mundial de Endometriose. Na visita, tentará emplacar no Brasil um programa criado em parceria com a Universidade da Califórnia para ensinar instituições e faculdades a como fazer pesquisas clínicas, escrever e publicar. “O Brasil tem potencial de pesquisas e queremos auxiliar.”
CartaCapital - A sra. foi a primeira mulher a ser editora-chefe do British Medical Journal desde a sua criação em 1840. Por que uma mulher levou tanto tempo para chegar a esse posto?
Fiona Godlee - O BMJ é uma combinação de publicação e medicina, em ambas as atividades as mulheres avançaram durante os anos graças aos esforços de muitas pessoas. Creio que me beneficiei disso. Nunca pensei muito sobre o fato de ser a primeira mulher neste cargo, mas faço o que amo.
CC - A senhora lida com estudos e artigos científicos de todo o mundo. Como avalia a qualidade da produção científica nos últimos anos? 
FG - Várias perguntas precisam ser feitas: estamos fazendo o tipo certo de pesquisas? Os assuntos são corretos? Quão boas são essas pesquisas? Há grandes movimentos para mais transparência, maior envolvimento dos pacientes no processo de decisão, e uma abordagem de pesquisas mais independente em oposição a estudos financiados pela indústria. Mas ainda somos dependentes de testes clínicos financiados por empresas comerciais, e isso é ruim para a medicina. É difícil que esses testes sejam adequadamente independentes. A indústria é mais propícia a colocar dinheiro em estudos que rendam produtos e aparelhos médicos, e não em coisas que mudam vidas. Gostaria de ver mais pesquisas públicas ligadas a problemas que pacientes acham importantes e que não definidos por interesses comerciais.
CC - A senhora acredita que os testes financiados pela indústria farmacêutica tendem a ser enviesados? 
FG - Há diversas evidências de que estudos financiados por empresas são mais propensos a conclusões favoráveis ao produto ou aparelho criado pelo financiador. Há muitos indícios de que os resultados destas pesquisas não são declarados de forma transparente, pois tendem a ser escritos de maneira enviesada em favor ao produto. Entretanto, isso também é verdade em estudos não financiados por empresas. Cada vez mais, quando temos acesso total aos resultados de pesquisas, percebemos que nem sempre se chega ao mesmo resultado publicado.
CC - A senhora está envolvida com um programa para ensinar as instituições e faculdades braisileiras a fazer pesquisas clínicas. Como isso funciona? 
FG - O Brasil tem muito potencial de pesquisas e já ocupa o 14º lugar em quantidade de pesquisas. O objetivo é criar um suporte de aprendizado online e em outras formas para ajudar pesquisadores a desenvolverem suas habilidades e entenderem como fazer boas pesquisas em medicina clínica, como reportar e escrever de forma ética, completa e transparente. Queremos ajudar a criar capacidade no Brasil para que os pesquisadores saibam criar perguntas adequadas, usar a melhor metodologia e tenham noções de como lidar com os problemas práticos de pesquisas, como o financiamento e análise dos dados.
CC - Como a senhora avalia a publicação científica brasileira? 
FG - Não tenho conhecimento específico sobre as pesquisas brasileiras, mas a forma como os estudos são avaliados é interessante. A maneira clássica de julgar a qualidade de uma pesquisa é o número de citações que ela recebe de outras pessoas. Em geral, as pesquisas brasileiras são publicadas em português, logo, pode ser um pouco difícil ranqueá-las em termos globais de pesquisas em inglês. Então é importante analisar as pesquisas brasileiras publicadas em inglês. Há sistemas de indexação na América Latina que estão tornando as pesquisas latino-americanas mais compartilháveis naquela região.
CC - A editora BMJ tem uma parceria com o Ministério da Saúde para fornecer gratuitamente aos profissionais de saúde brasileiros informações do seu acervo. Como o acesso a esses dados pode ajudar na qualidade do atendimento médico? 
FG - Queremos garantir que os médicos do mundo tenham acesso a dados relevantes baseados nas melhores informações para que possam usar na prática ou para aprendizado na faculdade. Essas ferramentas poupam o tempo dos médicos e os ajudam a ser mais confiantes nos diagnósticos.
CC - Como conciliar a rotina de médico com a de pesquisador, especialmente em países como o Brasil, onde faltam médicos?
FG Os melhores pesquisadores realizam prática clínica e veem pacientes. Mas se o médico precisa de uma carga pesada de trabalho para sustentar sua família, como terá tempo e motivação para pesquisa? É uma escolha difícil de fazer. Não há uma resposta fácil, mas trabalhar em colaboração, dividindo o peso das tarefas, ideias e experiências pode ser uma saída. Entretanto, seriam necessárias uma administração e uma estrutura neste sentido.
CC - O que impede a pesquisa, especialmente em países em desenvolvimento?
FG - Não se trata apenas de dinheiro. Mas ter uma cultura de questionar e desafiar o que é ensinado ao invés de aceitar os fatos como verdades absolutas. Também é importante não haver muita hierarquia para encorajar as pessoas a achar as suas próprias respostas. Trazer os pacientes mais para perto das pesquisas para que queriam participar e disponibilizar seus dados. É preciso também de treinamento de jovens pesquisadores para dar a eles as ferramentas, confiança e habilidades necessárias.
CC - Como saber se um estudo não está comprometido por interesses da comerciais?
FG - Pesquisas médicas e clinicas são baseadas em confiança. De vez em quando, essa confiança é quebrada e os cientistas agem da formas que não são no melhor interesse dos pacientes. Estão pressionados a publicar e fabricam os resultados, manipulam para parecerem melhores do que são, ou escondem alguns aspectos que não se encaixam com o que querem dizer. Há muitas formas de fazer uma pesquisa enviesada. A questão é se temos como prevenir isso com treinamentos e apoio aos pesquisadores. Temos formas de identificar quem agiu errado, mas o difícil é saber quão bom somos em prevenir o mal comportamento. Fraudes não são raras, nem os resultados repletos de erros. Uma função do jornal científico é educar os pesquisadores na forma correta de fazer as coisas, de reportar da maneira honesta e com todas as informações. Pesquisadores são humanos e estão sujeitos à pressão. A melhor abordagem é criar uma estrutura de treinamento e apoio para fazer com que as pesquisas sejam conduzidas da melhor forma possível.


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Herpes mata 10 milhões de ostras em 3 dias e ameaça um setor de US$ 4 bi


Divulgação             

15 de dezembro (Bloomberg) - O herpes devastou 26 por cento da produção de ostras da França desde o verão de 2008. Do outro lado do mundo, na Austrália, o vírus matou 10 milhões de ostras em três dias.

Os pesquisadores suspeitam que a mudança climática pode agravar as perdas.

Para saber mais sobre como o vírus e a água mais quente do oceano afetam as ostras do Pacífico, pesquisadores da Organização Nacional de Pesquisa Industrial e Científica (CSIRO), da Austrália, e da Universidade da Tasmânia estão usando cola dental para prender monitores de batimentos cardíacos a meia dúzia delas. Outras doze ostras do Pacífico são monitoradas em um laboratório interno, onde a luz e a temperatura são alteradas para medir modificações em suas reações fisiológicas.

"Você pode subir na cerca e observar suas vacas ou ovelhas, mas não dá para fazer isso com as ostras", disse Nick Elliott, líder do grupo de pesquisas em agricultura da CSIRO, que está conduzindo o grupo de investigação em Hobart, Tasmânia. "Não dá para medir o desempenho pela cara delas".

Elliott espera que a reação das ostras responda às perguntas que estão assolando um setor global de US$ 4,1 bilhões que luta contra um vírus do herpes que pode ter uma taxa de mortalidade de 100 por cento. Os resultados também poderiam ajudar a esclarecer como mitigar os efeitos do aquecimento do oceano na indústria internacional da pesca e da aquicultura, responsável por até 16,5 por cento da proteína consumida pela população mundial, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

Matador de moluscos


O Ostreid herpesvirus-1, também conhecido como Síndrome da Mortalidade de Ostras do Pacífico, pode matar a maior parte do rebanho de uma fazenda marinha de moluscos jovens em um único dia e foi vinculado a mortes de ostras na Europa, na Austrália e na Nova Zelândia. Ele ataca principalmente ostras com menos de um ano de idade, de acordo com o Instituto de Pesquisa Francês para a Exploração do Mar.

Na Europa, o vírus começa a matar ostras quando a temperatura da água chega a cerca de 16 graus Celsius.

Cultivo de ostras


"Para cultivar ostras, você não as alimenta ativamente", disse John McCulloch, engenheiro de pesquisa de produtividade digital da CSIRO. "Na verdade, como fonte de alimento a ostra depende da mistura natural de algas, que varia bastante mesmo com ínfimas mudanças do clima".

O herpes da ostra não faz mal às pessoas, não tem a ver com o vírus que atinge os humanos e não é possível contrair a doença pelo consumo de ostras infectadas. Além disso, ninguém ia querer se aproximar delas: as criaturas marinhas comem a carne das ostras mortas e qualquer resquício que sobre quando o molusco é retirado da água fede a podridão.

'Algo mudou'


Os amantes de ostras na França já estão desembolsando mais para satisfazer seus desejos. Os preços atacadistas das ostras francesas aumentaram 36 por cento desde dezembro de 2008, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica e Estatística, em Paris.

Embora infecções provocadas pelo herpes já tivessem ocorrido antes nos EUA, no Japão e na Europa, "algo mudou no verão de 2008 na França", disse Richard Whittington, professor de saúde animal da Universidade de Sidney. "Parece que ocorreu uma mutação em algum dos vírus historicamente comuns, que o transformou de um incômodo eventual a um matador. E ele matou em proporções nunca vistas antes".

A indústria de ostras da Austrália vale cerca de 100 milhões de dólares australianos (US$ 83 milhões) a cada ano, de acordo com o governo.

Embora ninguém saiba como o herpes viajou para a Austrália ou para a Nova Zelândia, ele pode se espalhar pelos alimentos.

"Se o vírus chegar à Tasmânia e à Austrália Meridional, a indústria nacional de ostras estará em grandes problemas", disse Graham Mair, administrador do programa de inovação para a produção do Centro Cooperativo Australiano de Pesquisa de Frutos do Mar, com sede em Adelaide.

Fonte

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Russo compra medalha do Nobel para devolvê-la a geneticista

10/12/2014 17h56 - Atualizado em 10/12/2014 17h56 

James Watson foi premiado em 1962 por descoberta de estrutura do DNA.
Homem mais rico da Rússia, Alisher Usmanov diz que quis 'apoiar ciência'.
 
Da France Presse

Imagem cedida pela casa de leilões mostra a medalha do Prêmio Nobel que James Watson ganhou em 1962 e que foi vendida por US$ 4,75 milhões  (Foto: AP Photo/Christie’s)
Imagem cedida pela casa de leilões mostra a
medalha do Prêmio Nobel que James Watson
ganhou em 1962 e que foi vendida
por US$ 4,75 milhões
(Foto: AP Photo/Christie’s)
O controverso geneticista americano James Watson, que leiloou a medalha do Nobel que ganhou por US$ 4,75 milhões, poderá recuperar o prêmio, que lhe foi devolvida pelo comprador, o homem mais rico da Rússia, Alisher Usmanov.

"O comprador (...) Alisher Usmanov comprou a medalha para devolvê-la ao dono", anunciou nesta quarta-feira (10), em um comunicado, a holding USM, pertencente ao magnata da metalurgia e da internet, que tem uma fortuna estimada pela revista Forbes em US$ 18,6 bilhões.

"Assim, conforme seu projeto original, o professor Watson poderá dar o produto de sua venda a institutos de pesquisa", prosseguiu o comunicado.

James Watson, geneticista e bioquímico, hoje com 86 anos, conquistou o Nobel de medicina e fisiologia em 1962, após ter co-descoberto, em 1953, a estrutura da dupla hélice do DNA, uma das maiores descobertas científicas da história da humanidade.

Em 2007, ele foi muito criticado pelas declarações dadas ao jornal Sunday Times, nas quais deu a entender que os africanos eram menos inteligentes que os ocidentais, e precisou deixar a presidência do Cold Spring Harbor Laboratory (CHSL) de Long Island, perto de Nova York.

Sua medalha do Nobel, feita em ouro 23 quilates, de 6,6 centímetros de diâmetro, representando o perfil esquerdo de Alfred Nobel foi, segundo a Christie's, a primeira já vendida em leilão com o premiado ainda vivo. Ela foi adquirida em 4 de dezembro em questão de minutos e o nome do comprador ficou em segredo até o anúncio de Usmanov.

James Watson admitiu ao Financial Times que vendeu sua medalha porque precisava de dinheiro, após ter sido excluído de várias sociedades. Mas segundo o The New York Times, o geneticista procurava com a venda uma espécie de reabilitação.

O multimilionário e filantropo russo de 61 anos afirmou, por sua vez, que queria prestar uma homenagem às pesquisas do cientista e apoiar a ciência.

"Suas pesquisas contribuíram para a luta contra o câncer, doença que matou meu pai. É importante para mim que o dinheiro que gastei nesta medalha beneficie a pesquisa científica e que a medalha permaneça com quem a mereceu tanto", disse Usmanov.


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Aprenda como destruir a natureza na telinha da sua TV

Dener Giovanini
09 dezembro 2014 | 14:22


Ao contrário do que se propõem, canais da TV paga como o Discovery Channel, NatGeo e Animal Planet, entre tantos outros, se transformaram num circo dos horrores e fonte inesgotável de deseducação ambiental. A desesperada busca de audiência transformaram essas emissoras num permanente palanque de bizarrices e desrespeito à biodiversidade, em especial aos animais.
 
Casos como o do apresentador Paul Rosolie, que na semana passada se deixaria “engolir” por uma serpente no programa “Eaten alive” da Discovery Channel, tem se tornado cada vez mais comum.
 
Basta sintonizar qualquer um desses “canais de natureza” para se deparar com apresentadores caçando animais, destroçando-os com seus dentes e imobilizando-os de forma bruta e desrespeitosa.
 
Tais cenas são mostradas para enaltecer a coragem e a destreza dos apresentadores. Nada mais falso. Na maioria das vezes, os animais que são vítimas da barbárie televisiva são levados aos sets de filmagem exatamente para esse fim. Ou alguém acredita que se mobiliza uma equipe inteira de filmagem – muito cara por sinal – para se aventurar na mata e torcer para que de uma hora para outra algum bicho surja do nada? Esse crime, além de desprezível é, portanto, premeditado.
 
O Brasil, que tem cada vez mais contribuído com produções nacionais para abastecer a programação desses açougues televisivos, segue no mesmo caminho da desinformação e da exibição ofensiva da degradação ambiental. Degradação essa que reflete a pequenez da responsabilidade e humanidade dos apresentadores e produtores desses atentados à biodiversidade.
 
A Discovery Channel, o NatGeo e seus congêneres devem explicações à sociedade brasileira e, principalmente, aos órgãos de controle e fiscalização ambiental, que parecem estarem cegos diante do que vem sendo mostrado na televisão. Se cegos – no caso, incompetentes – não estiverem, conviventes estarão. No mínimo.




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