Plínio Bortolotti
Um indivíduo toma um choque e cai desmaiado em cima do trilho de um
trem. Um colega dele corre para prestar socorro, e tenta reanimar o
ferido, que não dá sinais de vida. Então, ele faz outra tentativa,
mergulhando a cabeça do acidentado em uma poça de água, chacoalhando seu
corpo. A operação demora cerca de 20 minutos até que o ferido recobra a
consciência, e o sujeito que o salvou – pondo em risco a própria vida
-, fica a massagear-lhe as costas.
Um menino cai em um fosso e, indefeso, corre o perigo de ser atacado
por um bando de sujeitos que está próximo. Um deles corre para acudir a
criança, protege-a com seus braços, até entregá-la para receber os
primeiros socorros.
No primeiro caso, os personagens são dois macacos-rhesus. O episódio
aconteceu em uma estação de trens na Índia, repleta de humanos, que
limitaram-se a filmar a cena.
O segundo, foi em um zoológico dos Estados Unidos, envolvendo um
humano (a criança) e uma gorila fêmea, que tomou o menino no colo, e a
deixou a salvo em cima de uma pedra, ao lado da porta usada pelos
tratadores para alimentar um bando de gorilas.
Os dois casos voltaram-me à memória devido à decisão da Justiça Argentina, que concedeu habes corpus
a Sandra, uma fêmea de orangotango, que vive no zoológico de Buenos
Aires, para que seja libertada em um santuário para animais.
A Câmara de Cassação Penal (tribunal penal máximo da Argentina), por
unanimidade, reconheceu a orangotango como “sujeito não humano”, privado
ilegalmente de sua liberdade. A decisão poderá criar jurisprudência,
pois até então, a Justiça argentina considerava animais objetos e não
sujeitos. O processo foi iniciado por ativistas dos direitos dos animais
e o zoológico poderá apelar à Corte Suprema de Justiça.
Para a Associação de Funcionários e Advogados dos Direitos dos
Animais (Afada), a decisão abre caminho para que tanto os grandes símios
quanto “outros seres sencientes”, que se encontram privados de
liberdade em zoológicos, circos, parques aquáticos e laboratórios,
possam ser libertados. (“Senciente” é o ser capaz de sofrer, sentir
prazer ou felicidade).
Há tempos ativistas dos direitos dos animais e muitos cientistas
deixaram de separar a espécie animal em “racionais” e “irracionais”,
preferindo falar em “níveis de racionalidade”, na qual, por enquanto,
nós humanos continuamos no topo (com as máquinas mordendo-nos os
calcanhares).
Produzir ferramentas, dispor de linguagem, reconhecer a própria
imagem, fazer alianças políticas com membros do grupo, planejar ações –
são competências das quais também dispõem os grandes primatas. E, a
exemplo dos humanos, eles podem usar para essas habilidades para
praticar o altruísmo ou a guerra.
No livro Macacos (Publifolha), Drauzio Varella comenta as
características dos quatro grandes primatas: orangotangos, gorilas,
chimpanzés e bonobos. Mostra como os nossos primos se organizam em
sociedade, como disputam o poder, fazendo coalizões e se arranjam em
acordos para conquistar aliados – e também como se preparam para a
guerra. Em um dos trechos, ele relata como um grupo de chimpanzés (sete
machos adultos, uma fêmea e um adolescente) se organizam para atacar o
bando vizinho, e como eles conduzem a expedição punitiva em silêncio,
até surpreender, com um violento ataque, com paus e pedras, o líder
rival.
NOTAS
Créditos
Para ver: macaco-rhesus salva companheiro na Índia; gorila tira criança do fosso e a entrega a tratadores. Para ler: as informações sobre a decisão da Justiça da Argentina, reproduzidas neste artigo, são de notícia publicada no portal da Deutsche Welle.
Para ver: macaco-rhesus salva companheiro na Índia; gorila tira criança do fosso e a entrega a tratadores. Para ler: as informações sobre a decisão da Justiça da Argentina, reproduzidas neste artigo, são de notícia publicada no portal da Deutsche Welle.
Coalizões
Diferentemente dos gorilas e orangotangos, entre os chimpanzés o líder não é necessariamente o mais forte, porém, o que consegue estabelecer melhores alianças. Os bonobos formam uma sociedade matriarcal, com as coalizões femininas comandando os machos. Diferentemente dos chimpanzés, a convivência entre os bonobos é pacífica, obtida por meio de estratégias sexuais.
Diferentemente dos gorilas e orangotangos, entre os chimpanzés o líder não é necessariamente o mais forte, porém, o que consegue estabelecer melhores alianças. Os bonobos formam uma sociedade matriarcal, com as coalizões femininas comandando os machos. Diferentemente dos chimpanzés, a convivência entre os bonobos é pacífica, obtida por meio de estratégias sexuais.
Bonobos e o sexo livre
Todas as práticas sexuais humanas já foram registradas entre os bonobos: macho-fêmea, fêmea-fêmea, macho-macho, fêmea adulta-macho juvenil, macho adulto-fêmea juvenil, macho adulto-macho juvenil e os juvenis entre eles. (As informações das duas últimas notas são do livro Macacos.)
Todas as práticas sexuais humanas já foram registradas entre os bonobos: macho-fêmea, fêmea-fêmea, macho-macho, fêmea adulta-macho juvenil, macho adulto-fêmea juvenil, macho adulto-macho juvenil e os juvenis entre eles. (As informações das duas últimas notas são do livro Macacos.)
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